sábado, 23 de abril de 2011

Páscoa em Itália: Piemonte e Lombardia

Achei que não merecia o duplo castigo de passar a Páscoa sozinho, e em Berna! Por isso, fiz-me novamente à estrada rumo à capital do Piemonte, Turim, por onde as nossas voltas em direcção à costa italiana, ainda não nos tinham feito passar. E já que o fim-de-semana seria de quatro dias, decidi dar um "pulo" à mais cosmopolita das cidades italianas: Milão, capital da Lombardia. Embora São Pedro não tenha, de início, diligenciado a favor de um belo portfolio fotográfico, o clima foi "abrindo" e foi uma viagem de descobertas fascinantes, como sempre neste bel paese...

1. Turim, capital dos Sabóias


Uma das duas estátuas que abrem
caminho ao Palácio real de Turim
Embora mais "arrumada" de que Génova, por exemplo, Turim é uma metrópole bem italiana: trânsito assustador, um povo que fala a gritar, História "amontoada" em camadas sucessivas (principalmente em edifícios religiosos em cada esquina de rua), resmas de turistas e filas dantescas frente aos museus (O famoso Museu Egípcio ficou para a próxima...), gelados de chorar por mais, em resumo todo aquele caos que, em conjunto, faz da Itália um dos mais apaixonantes países do mundo!


Detalhe do frontão do palácio abaixo
A dimensão relativamente pequena do centro histórico onde estão reunidas as principais atracções da cidade, comparando com outras cidades italianas, faz de Turim uma urbe de fácil e agradável descoberta para os turistas.





Um elegante palácio junto à Porta Nuova


Nestes dias em que os italianos festejam os 150 anos da unificação (Risorgimento), Turim esbanja patriotismo e afirma, mais do que nunca, o seu papel fundamental na História do país, já que nela se "negociou" a unificação, foi, em resultado, a primeira capital italiana (em 1861) e nela nasceu o Primeiro Rei da Itália (Vítor Emanuel II).




Para que não restem dúvidas, a monumental placa que encima
o Palazzio Carignano, onde nasceu o Primeiro Rei da Itália...

O roteiro mais usual começa na Porta Nuova (junto à estação de comboio) e, descendo em linha recta, leva-nos ao "centro nevrálgico" da cidade, onde se encontram lado a lado o Palazzio Reale, o Palazzo Madama, o Duomo (Catedral), as ruínas romanas e as principais Igrejas, em dez minutos contados...



Vista sobre o Palazzo Reale com o excêntrico domo
da Capela do Santo Sudário em pano de fundo
 
Evidentemente, esses dez minutos transformam-se facilmente em três, tantas são as atracções turísticas (mas também gastronómicas) pelo caminho! Da Porta Nuova, a principal avenida de lojas de Turim, a Via Roma, divide-se em duas partes distintas. Num primeiro percurso, mais recente e de construcção típica da época fascista (a famosa arquitectura vitoriosa da era Mussolini), reúne as principais lojas de luxo que se imagine, até desembocar na bela e barroca Piazza San Carlo.


Piazza San carlo: estátua do duque Emanuele Filiberto e,
em pano de fundo, a Igreja barroca de Santa Cristina

Os elegantes edifícios barrocos da Piazza San Marco
valeram-lhe o epíteto de "sala de desenho de Turim"


Uma segunda metade da Via Roma parte da Piazza San Carlo rumo ao Palazzio Reale, mais bonita na opinião deste viajante já que composta por elegantes edifícios oitocentistas ostentando largas arcadas em ambos os lados.


A praça do Palácio real de Turim, a Piazza Castello, é uma caixa de surpresas bem ao gosto dos amantes de História. Dois milénios reunidos numas poucas centenas de metros quadrados. Em frente ergue-se majestoso (como se deseja) o Palazzo Reale dos Sabóia, tão sóbrio por fora quanto luxuoso no seu interior...


A esquina do Palazzo Reale e da Armeria, nos tons do entardecer

Pormenor dos belos portões

A vista do pátio interno, sobre o monumento a
Vitor Emanuel II e o Palazzo Madama

O monumento ao "omnipresente" Rei


Do lado direito do Palazzio que serviu de residência à família real dos Sabóia de 1660 até à unificação da Itália em 1861 encontra-se o mais interessante prédio histórico da cidade: o Palazzo Madama. Deve o seu curioso nome à viúva ... que ordenou a sua construção, implicando a remodelação do castelo medieval que até hoje domina o centro da cidade, por sua vez eregido sobre elementos da muralha romana da cidade datada do primeiro século depois de Cristo! Dois milénios sobrepostos num magnífico e curioso edifício, de um lado ainda hoje fortaleza medieval de imensa e rude fachada de tijolo vermelho, do outro elegante e vistosa fachada barroca, de inícios de setecentos, encimada por balaústres. O interior do Palazzo Madama é também de visita obrigatória, com uma imponente escadaria e um sumptuoso piso superior com um vão de mais de vinte metros de altura. O Museo Civico d'Arte Antiga é um dos mais bem apetrechados de Itália, foi o único que pude visitar na cidade, e é também ele um ex-libris de Turim!

O belo Palazzo Madama, com uma das duas
imponentes torres do castelo medieval à vista
A extraordinária escadaria

Frente ao Palazzo Madama, a homenagem
ao exército da Sardenha

Panorama sobre a praça do palazzo Reale do alto de uma
das torres medievais do Palazzo Madama


Do lado oposto da Piazza Castello, ergue-se a discreta silhueta da igreja barroca de San Lorenzo, iniciada em 1634 e cujo interior, contrastando com a modéstia externa, é nada menos do que sumptuoso, em particular a sua intrigante cúpula geométrica.


A bela cúpula da Igreja de San Lorenzo


Penetrando pelo Palazzo Reale, descobrimos os jardins reais, que atravessamos encontrando o singelo edifício renascentista do Duomo (Catedral) em nítido contraste com os palácios barrocos vizinhos, acompanhado da torre campanário, ambos do século XV e, logo em frente, o que resta do que, em tempos, foi Augusta Taurinorum, pequena  urbe-fortaleza a caminho das Gálias. Hoje resta sobretudo uma magnífica (e reconstruído?) porta de entrada da era romana, a Porta Palatina. Como a modéstia não cria História, nem atrai turistas, apresentam-na os imperadores Júlio César e Augusto eux-mêmes, em estátuas de corpo inteiro de cada um dos lados da Porta.




Duomo e Campanário, ambos do século XV,
ambos de arquitectura sóbria mas imponente

Regressando junto ao Palazzo Madama, a poucos passos fica o edifício que acolhe o Museu Egípcio, supostamente um dos mais prestigiados do mundo, e por isso mesmo "atolhado" de gente. A fila dando a volta ao quarteirão, não me restaram grandes dúvidas em prosseguir caminho e, mesmo em frente, impõe-se o mais belo prédio de Turim: o Palazzo Carignano, erguido para a família Carignano, ramo de nobreza colateral à casa de Sabóia, em 1679. Com a sua singular fachada ondulante, toda ela de tijolo vermelho, este edifício foi local de nascimento do primeiro Rei da Itália unificada, Vítor Emanuel II, e sede do primeiro Parlamento italiano. Hoje acolhe o Museu Italiano do Risorgimento, e a fila também era longa...  Atravessando o Palazzo Carignano, somos uma vez mais supreendidos por mais um edifícios emblemático de Turim possuir duas fachadas tão distintas. A fachada virada à Biblioteca Nacional é uma bela e típica fachada barroca, rica em detalhes e estatuária.

O Palazzo Carignano


A fachada oposta
 

Detalhe de uma fachada "sui generis" 

O pátio interno "estelar", também ele exuberante




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