segunda-feira, 4 de abril de 2011

Dijon e a Borgonha

Num curto fim-de-semana de calor, sobretudo no Sábado (onde as temperaturas chegaram aos 27º...), fomos conhecer mais uma magnífica região da França, a Borgonha, famosa pelos seus vinhos e paisagens rurais, e a sua capital Dijon, terra de reputada gastronomia, a começar pela "mítica" mostarda.


Descobrimos as várias e fascinantes facetas de uma região com uma longa História testemunhada desde logo pelos assinaláveis marcos da presença romana (foi aliás em território hoje da Borgonha que os romanos derrotaram definitivamente os gauleses do Rei Vercingetorix) e que alimenta um forte cunho autonómico. Não esqueçamos que os Duques de Borgonha foram, em tempos, os maiores adversários dos Reis de França, dominando um estado que cobria os território da Borgonha mas também do que é hoje a Bélgica e a Holanda.

Símbolo da Borgonha nos
vitrais da Catedral de Autun
Em dias de primavera com ares de verão, saboreámos também os percursos pelas estradas locais, férteis em belas paisagens naturais numa região rica em florestas e panoramas campestres, entrecortados por pequenos burgos pitorescos geralmente dominados por castelos apalaçados ou velhas igrejas medievais.

Típica paisagem campestre com os famosos
(e curiosos) bois borgonheses em primeiro plano
Cores estivais, com temperaturas
nos 27º, na cidade de Autun

Num curto fim de semana visitámos três grandes cidades da Borgonha (Dijon, Autun e Beaune) além da região dos vinhos (Route des Grands Crus) que nos deixaram entrever as tantas "Borgonhas" que existem numa só, e que merecerão decerto outra(s) visita(s).

Se dependesse da Joana, estaríamos
todos os dias "pela estrada"

1. AUTUN, ou a Borgonha sob comando de Roma

Construída no final do primeiro século a.c. por ordens do Imperador Augusto, a actual cidade de Autun (antiga Augustudonum) é o melhor testemunho da presença romana numa região que ficaria para a História como aquela onde Júlio César derrotou definitivamente os gauleses (na batalha de Alésia, em 52 a.c.) anexando todo o território do que é hoje a França ao império romano. Autun exibe as ruínas bastante danificadas do seu teatro prostrado sobre o lago, onde cabiam cerca de 20.000 espectadores e que hoje, bem felizmente, continua a ser utilizado para os exactos propósitos para os quais foi construído há dois mil anos, embora com audiência bem mais reduzida. Mas a capacidade deste teatro demonstra a importância de uma cidade que foi um importante centro de estudo e contava, na época romana, com uma população quatro vezes superior à actual (que caberia toda no antigo teatro)!


A fantástica casa junto ao teatro, onde se reaproveitaram estátuas
e colunas como adornos (que talvez melhor lugar teriam num museu?)

Uma grávida em contemplação histórica!

Por sorte cruzámo-nos com uma família local, perdida no tempo...

Mas o grande ex-libris romano de Autun é a imponente Porta de Saint-André, uma das antigas portas que interrompiam a muralha romana à volta da cidade, e que mantém um estado de conservação notável.



Outros dois legados de Roma de visita obrigatória em Autun são as muralhas (cerca de cinco quilómetros ainda rodeiam a velha cidade!) e o gigantesco e enigmático Templo de Janus que, afinal não se sabe a que divindade foi dedicado (por erro atribuído a Janus por um arqueólogo local no século passado).

As magníficas muralhas romanas

História sobreposta: dez séculos separam as muralhas
 romanas da Catedral, que por sua vez quase
dez séculos separam de hoje!

A Joana a servir de medida para o colossal Templo de Janus

2. AUTUN ainda, e BEAUNE ... o esplendor da Borgonha medieval

Como se não bastasse o espólio romano, Autun possui ainda um património medieval capaz de fazer corar qualquer outra cidade da época! A Catedral Saint-Lazare é, como nos prometia o guia, de facto "soberba" pelas dimensões e pela arquitectura, com particular destaque para os tradicionais telhados de telhas vidradas multicolores, tão próprios da Borgonha. O interior é imponente, para mais num dia em que não se via vivalma!

Vista sobre Autun, desde o Templo de Janus, com
a Catedral de Saint-Lazare em segundo plano
No interior da Catedral de Autun "descansa" com a sua
esposa Pierre Jeannin, Presidente do Parlamento dijonês
à época da perseguição dos protestantes no século XVI,
cujo massacre evitou na Borgonha com uma instrução
que ficou para a História: "as ordens de monarcas muito
 zangados devem ser obedecidas com vagar".
A fascinante Catedral de Autun


O frontão da Catedral de Autun é uma obra de arte do século XII em perfeito estado
de conservação, por ter sido protegida com estuque no século XVII, assim
sobrevivendo aos excessos da Revolução Francesa. De tão conservada,
e pelo seu misterioso autor Gislebertus ter tido um estilo tão "vanguardista" para
 a sua época, julguei até, antes de ler o guia, que se tratava de uma
reprodução moderna de algo que fora destruído!

Os famosos telhados multicolores da Borgonha


Autun possui ainda um agradável centro (onde almoçámos bem) com dois monumentos de destaque, o Teatro, em primeiro plano, e a Câmara Municipal.


Detalhe do frontão do teatro
À mesa há sempre boa disposição!

Edifício do centro medieval, onde a
torre de vigia perdeu o seu propósito

Para lá de Autun, em direcção a Beaune, começa a Rota dos Vinhos da Borgonha, mas também uma multitude de pequenas aldeias perdidas no tempo como Nolay com o seu magnífico centro medieval deserto, de onde se destaca um mercado coberto (Halles) datado do século XIV, em perfeito estado de conservação, e a Igreja do século XV. Deambular pelas ruas seculares de Nolay sem vivalma foi uma experiência...





Poucos quilómetros adiante, uma visão imponente oferece-se aos viajantes com a silhueta do castelo medieval de La Rochepot (século XIII) da qual sobressaem os omnipresentes telhados de telhas multicolores.




A cidade de Beaune, a pouco mais de uma hora de carro de Dijon, encantou-nos "à primeira vista" de tal forma que desistimos de dormir a segunda noite em Dijon. Intensamente turística, mas ainda assim de dimensões pacatas, a cidade revelou-se uma pequena jóia medieval, com um centro histórico animado, uma Catedral fascinante onde assistimos a jogos de luzes como nunca dantes víramos, e um monumento famoso em toda a França: o Hôtel-Dieu, edifício monumental que serviu de hospício para os pobres desde a sua construção no século XV. A calma dominante (pelo menos em Abril) e contrastante com a cidade de Dijon cativou-nos e aqui ficaremos em futuras visitas à Borgonha...


A Catedral de Nossa Senhora, cuja construção
se iniciou no século XII

Detalhe de uma das portas laterais da Catedral

O "descanso da grávida" no sossegado
páteo interno da Catedral

O magnífico varandim renascentista da Catedral

Aspectos nocturnos do belo centro histórico

A Catedral "by night", transformada pelo mágico espectáculo de luzes


O Hôtel-Dieu "by night"...

... e a sua fachada principal de dia

A "galeria dos pobres"


O belo páteo interior, de onde sobressaem os multicolores telhados que
são o melhor exemplo que vimos desta arte tão tipicamente borgonhesa

O Políptico do Juízo Final, atribuído ao flamengo Van der Weyden,
(século XV) constitui a peça-mestre de todas as obras de arte do Hôtel-Dieu

Ruelas do centro de Beaune

Um belo exemplo dos telhados típicos da Borgonha


3. DIJON ... ou a efémera glória dos Duques de Borgonha
Não passámos muito tempo na principal cidade da Borgonha, famosa pelos seus monumentos dos séculos XV a XVII (época de glória do Ducado da Borgonha) e, evidentemente, pela sua mostarda! Aliás, no instante em que chegámos a Dijon, na Sexta à noite, subiu-nos logo "a mostarda ao nariz", como dizem os franceses. O hotel centralissimo de três estrelas (pomposamente Hotel des Ducs) era na verdade uma espelunca ao melhor estilo pensão barata da Dona Chica. Por isso nem pensámos em ficar uma segunda noite, que passámos na charmosa cidade de Beaune, acima retratada.

Um anjo desgastado pelos séculos
nos telhados do Palácio Ducal
O centro de Dijon, para além do belo Palácio dos Duques de Borgonha e da enigmática Catedral de Saint-Michel, pareceu-nos confuso e menos acolhedor do que muitas outras urbes mais pequenas que fomos conhecendo em dois dias de périplo pela região. Aceita-se que sejam as desvantagens de ser "capital". Mas sabemos que não dedicámos o tempo necessário a descobrir Dijon, onde regressaremos com toda a certeza, já que ficou por ver o Museu de Belas Artes instalado no Palácio dos Duques.


A Catedral de Saint Michel desperta na névoa matinal.
Construída entre os séculos XV e XVII, deve a ser singularidade
à combinação de estilos gótico e renascentista.

Ruelas do centro histórico de Dijon

A Joana em alegres brincadeiras na bela praça do Palácio ducal!
Uma das duas fachadas do Palácio Ducal

A agradável praça junto ao Palácio
 
Vista sobre a colunata do Teatro de Dijon
e, em segundo plano, a Catedral do cidade
Edifícios do centro

4. A Borgonha dos vinhos

Impossível passar pela Borgonha sem provar os seus famosos vinhos, conduzir pela Route des Grands Crus e visitar algumas das inúmeras caves seculares da região!




Uma das várias caves seculares em Beaune 



5. A Borgonha da natureza

Imagens que dispensam comentários...





 
 

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