Dois símbolos da Alsácia, o típico casal alsaciano e a cegonha |
Já lá vão três semanas sobre o meu fim-de-semana pela Alsácia, descobrindo finalmente a sua capital, Estrasburgo (por onde passáramos apenas de "raspão"), bem como os principais ex-libris da região.
A Alsácia pode até não ter a monumentalidade das cidades italianas por onde deambulei nas mini-férias de Páscoa, mas é uma região de belas paisagens e também de muita História, terra limítrofe entre as zonas de influência francesa e alemã, e cenário de sucessivos conflitos, dois deles mundiais. Por isso mesmo visitar a Alsácia é, em larga medida, descobrir os seus castelos e vilas fortificadas.
Desde 1871, a Alsácia (e a vizinha Lorena) mudou quatro vezes de "dono" e de língua, mas nem por isso a região perdeu as suas tradições e cultura próprias. E falar em Alsácia é também falar em boa mesa, em choucroute e bom vinho, como o mais famoso branco alsaciano, o Riesling.
Neste fim-de-semana alsaciano fui visitar os principais pontos turísticos da região, para além daqueles que já nos são familiares (as cidades de Mulhouse e Colmar). Em Estrasburgo, uma manhã serviu para conhecer o magnífico centro histórico (Petite France) sem que tenha havido tempo, nem paciência para falar verdade, para vislumbrar as suas atracções modernas, nomeadamente o Parlamento Europeu. Mereceram ainda destaque a cidadela fortificada de inícios do século XVIII de Neuf-Brisach, a bela e pacata cidade de Saverne, com o seu castelo em ruínas a poucos quilómetros de distância, as fascinantes vilas de Eguisheim e Sélestat, esta última com um magnífico património medieval, e ainda o ponto alto do turismo: o Castelo de Haut-Koenigsburg, castelo medieval reconstruído no século XIX sob ordem do Kaiser Guilherme II, com forte cunho romântico.
1. Estrasburgo - A capital da Alsácia pode gabar-se de se localizar realmente no "centro" da Europa, a meio caminho entre Paris e Praga, confluência de culturas e religiões (a sua Catedral era das raras que reunia protestantes e católicos). O seu centro histórico é relativamente pequeno e pode ser explorado a pé numa bela manhã de primavera, o que sucedeu.
Caminhando de oeste para este, ladeamos o edifício vanguardista do Museu de Arte Moderna e avistamos já os "Ponts-Couverts" ("Pontes Cobertas") com as três imponentes torres de vigia medievais sobre os canais que atravessam a cidade. Em frente, no início da ilha que verdadeiramente abriga a Estrasburgo antiga localiza-se o coração da Vieille Ville, a "Petite France", ou "Pequena França", onde se encontram os mais notáveis edifícios medievais da cidade, e também a maior parte dos turistas!
Uns minutos em frente, e deixando pelo caminho o belo Palácio Rohan (concebido em 1730 para abrigar os cardeias de Estrasburgo e hoje sede de vários museus), damos de caras com o ex-libris da cidade, e da Alsácia: a esmagadora Catedral de Nossa Senhora. Uma obra-prima de rendilhado em pedra que Goethe bem descreveu: "ergue-se sublime como uma árvore de Deus com os ramos abertos", e que se avista a quilómetros de distância de Estrasburgo. Com construção iniciada no século XI, só se deu por concluída em 1439. Merecem especial destaque, além da óbvia dimensão da sua fachada, a porta da fachada oeste, com o seu relógio astronómico, e o terraço panorâmico, com vistas fabulosas sobre o centro histórico (sem elevador, a subida não é aconselhável para cardíacos...).
A praça frente à Catedral é um mundo de gentes, mormente turistas naturalmente, e apresenta também belos edifícios medievais típicos da Alsácia, com particular relevo para a Maison Kammerzel, transformada hoje em restaurante, com fachada talhada em madeira escura do século XV.
2. Neuf-Brisach - Cidade fortificada localizada a poucos quilómetros da fronteira alemã, mudou de "mãos" ao sabor das vitórias ora francesas ora teutónicas. è considerada a obra-prima do famoso arquitecto militar de Luís XIV, Vauban, acolhendo um museu com o seu nome e a sua obra.
Construída entre 1698 e 1707, Neuf-Brisach tem uma planta em forma de estrela, com 46 quarteiróes idênticos protegidos por uma muralha de 9 metros de altura e uma série de fortificações exteriores divididas entre dois grandes fossos.
Embora hoje grande parte das muralhas e das fortificações exteriores estejam recobertos pela densa vegetação, temos ainda bem a noção da imponência desta cidadela militar que, até à guerra franco-prussiana de 1870 (altura em que foi arrasada e tomada pelos alemães) resistiu a todos os cercos inimigos.
3. Saverne - É uma pacata e pequena cidade, em tempos residência de verão dos poderosos Rohan. Os ex-libris da cidade são sem margem para dúvidas o magnífico Palácio dos Rohan junto à praça central, bem como a Igreja em estilo românico, profundamente intimista no seu interior de pouca luz. Todo o ambiente descontraído e a ausência de turistas em massa - como em Estrasburgo - fazem o restante encanto deste aconselhável ponto turístico da Alsácia.
A poucos quilómetros de Saverne, merecem visita as ruínas do Chateau du Haut-Barr, nos tempos glórios apelidado de "olhos da Alsácia" tal a localização estratégica dominando o vale de Saverne. Situado no topo da maior colina da região, oferece vistas largas e magníficas sobre a "campagne" alsaciana.
A poucos quilómetros de Saverne, merecem visita as ruínas do Chateau du Haut-Barr, nos tempos glórios apelidado de "olhos da Alsácia" tal a localização estratégica dominando o vale de Saverne. Situado no topo da maior colina da região, oferece vistas largas e magníficas sobre a "campagne" alsaciana.
Ainda na região de Saverne, na pequena localidade de Marmoutier, esconde-se um tesouro medieval, uma Abadia com uma fachada que encerra em si toda a beleza sóbria que faz o encanto do estilo românico, e com torres octogonais que sobressaem, imponentes, dos telhados da vila.
4. Eguisheim - A esta pequena cidade não longe de Mulhouse cheguei em fim de tarde, e a luz poderia ter sido melhor para fotos. No entanto ficou a sensação de que se trata de uma típica vila alsaciana, com muito comércio de rua e pequenos e apeladores restaurantes. No início da Rota dos Vinhos da Alsácia, não faltam também estabelecimentos de pequenos produtores locais. No centro de Eguisheim encontra-se o curioso castelo feudal, em forma octogonal, e, na fonte em frente, a estátua de Bruno Eguisheim, nascido há precisamente mil anos (!) naquele local. Viria a ser papa sob o cognome de Leão IX.
5. Sélestat - Esta cidade reúne um impressionante acervo de monumentos medievais e renascentistas, e é visita obrigatória a quem passe pela região. Destacam-se os edifícios religiosos, a Église Ste-Foy, com a sua singela torre octogonal, do século XII e, ali perto, a imponente Église St-Georges. Centro intelectual da Alsácia durante o Renascimento, foi sediada em Séléstat a Bibliothèque Humaniste, que hoje reúne, naturalmente, um invejável espólio dos primeiros livros impressos e de iluminuras medievais. Merecem ainda destaque a Tour de L'Horloge e a Cour des Prélats, antiga residência de monges benedictinos construída em 1538, marcou o início do Renascimento na cidade e serviu ainda como armazém de bens agrícolas.
6. Castelo de Haut-Koenigsburgo - É reputadamente a atracção mais conhecida da Alsácia. Um primeiro castelo foi ali batuido em 1114, enquanto primeiro bastião da ordem dos Teutónicos. Destruido em 1462, foi reerguido e ampliado pelos Habsburgos no século XV, mas novamente destruído pelo fogo em 1633. No início do século XX, as ruínas do castelo foram restauradas por ordem do Kaiser Guilherme II, numa reconstituição "romântica" que hoje se traduz num edifício imponente, mas demasiado sofisticado para castelo medieval O Parque que rodeia o castelo (e que relembra muito Sintra) é ele também outra atracção. Cheguei depois da hora de fecho deste ex-libris da Alsácia, mas ainda assim senti o pulso a este majestoso monumento que noutra oportunidade, quem sabe, melhor explorarei/remos!
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