segunda-feira, 25 de abril de 2011

Milão, finalmente!

iÉ a cidade mais cosmopolita de Itália, sua capital financeira. O seu Duomo, o mais conhecido. Por isso mesmo, a vontade de visitar Milão desde que chegámos à Suíça era muita, e as expectativas altas. E, por isso mesmo, Milão não foi a grande surpresa deste curto périplo pelo Norte de Itália.

Não é que a Catedral não seja, de facto, magnífica e esmagadora, ou que a cidade não tenha a monumentalidade própria da segunda maior cidade do país, mas já ia de certa forma prevenido, e foi uma questão de confirmar, ou não, a ideia feita pelas fotos e livros de viagem. Nessa ordem de ideias, a visita ao Castello de Milão terá sido mais memorável do que a Catedral, já que eu não fazia ideia das dimensões e História do maior edifício militar da cidade.

O tempo e o dia escolhido não poderiam ter sido melhores. Os deuses sorriram com a data que escolhi para visitar Milão. É que 25 de Abril é feriado, Dia da Liberdade, queda da ditadura. Em Portugal, claro, mas também em Itália, vim a descobrir. Foi, com efeito, nessa data que em 1945 caiu o regime de Mussolini (o próprio não caiu, foi antes "pendurado"). E feriado em Milão significou entrar na metrópole de um milhão e meio de almas, e estacionar no centro histórico, com uma ridícula facilidade face ao que eu temia. A cidade abandonada aos turistas, impossível melhor oportunidade!

O "centro nevrálgico" de Milão: a Catedral, a estátua de Vitor Emanuel II
e, à esquerda, a entrada das famosas galerias de mesmo nome


1. O Castello Sforzesco

O mais imponente monumento militar da Lombardia foi, como já disse, a grande surpresa nesta visita a Milão. O seu posicionamento, em constante pano de fundo à principal avenida pedestre da cidade, confere-lhe ainda hoje a autoridade que lhe foi votada à data da sua construção no século XIV, aproveitando a muralha de origem romana. Mandado construir pela família Visconti, que então dominava a cidade e a região, foi, um século mais tarde, profundamente modificado pelo novo senhor da cidade, Francesco Sforza, cujo nome até hoje ostenta. Sforza mandou construir a torre de entrada no castelo, que porta o nome do arquitecto que a concebeu, Filarete. Transformou as duas torres laterais, de típica arquitectura quadrada medieval, em massiças torres redondas, de acordo com a evolução da construção militar. Por fim, ao exterior severo combinou um interior de gosto renascentista, onde mesmo Leonardo da Vinci trabalhou.




A colossal torre Bona di Savóia, do nome da
viúva do filho de Sforza, Galleazo Maria,
que a mandou construir, para maior protecção,
pouco depois do assassínio do marido

Vista da fachada principal do Castello, apanhando os dois
colossais torreões erguidos a mando de Sforza
Dos Visconti aos Sforza, dos espanhóis aos austríacos, de Napoleão até aos dias de hoje, muitas batalhas sangrentas presenciaram as pedras desta magnífica fortificação, finalmente nos nossos dias entregue a propósitos exclusivamente pacíficos, albergando um Museu de Arte Antiga.


2. O parco Sempione

Nas traseiras do Castello Sforzesco encontra-se hoje o maior espaço verde de Milão, o Parco Sempione. Os seus actuais 47 hectares representam apenas uma pequena parte dos 300 hectares de parque que Sforza mandou implementar como sua reserva de caça!


Durante a Segunda Grande Guerra, o parque foi utilizado para cultivar trigo, mas terminada a guerra uma remodelação devolveu-lhe o esplendor perdido. 



Na extremidade do parque oposta ao castelo situa-se o monumental Arco della Pace, arco de triunfo que homenageia Napoleão, mas também Napoleão III que expulsou os austríacos da região e abriu caminho à independência e unificação da Itália.



O respeito pelos "clássicos" nunca anda longe...


3. O Duomo

É simultaneamente o ex-libris de Milão e, a par de monumentos como o Coliseu de Roma e a Torre de Pisa, um símbolo da Itália. É, também, para muitos, o mais belo templo gótico do mundo, embora pela sua fachada, que demorou quatrocentos anos a completar (só o foi por iniciativa de Napoleão, quando se apossou da Itália nos primeiros anos do século XIX), exiba mistura de estilos, com elementos neogóticos e outros neobarrocos.

Iniciada pela família Visconti no século XIV, e com 157 metros de comprimento e 105 de largura, é um verdadeiro colosso que domina a praça mais agitada de Milão (Piazza del Duomo, naturalmente), único espaço público que na minha visita fervilhava de gentes neste pacato dia feriado em Milão.

O aspecto mais notável da arquitectura do Duomo talvez passe pelos seus incontáveis pináculos (135, diz o guia), muitos deles nas alturas segurando estátuas que se adivinham pelo menos de proporções à escala humana!

Os detalhes são tantos na riquíssima estatuária que quase se deixam entregues a um passageiro olhar as magníficas portas de bronze, uma delas, abaixo fotografada, com episódios da vida de Nossa Senhora. (na foto ao lado, um dos ricos frisos das portas de entrada do Duomo)







Os incríveis pináculos do Duomo

O interior da Catedral de Milão é, ele, puramente gótico. Intimidador, esmagador, frio... e repleto de arte sacra, sejam as pinturas que pendem dos tectos, seja a estatuária espalhada por todos os recantos, inclusive pelos 52 enormes pilares que sustentam as naves. De todas essas obras de arte, destaca-se a grotesca estátua de São Bartolomeu esfolado, segurando a própria pele, de dar calafrios ao mais indiferente dos turistas...

A Catedral ainda dominada pelos incensos
da missa recém-acabada

Um dos magníficos vitrais do Duomo

Como transformar uma catedral numa galeria de arte...

Pobre São Bartolomeu a quem não invejo a sorte...

4. Outros pontos de interesse

É impossível não atravessar as galerias comerciais mais famosas do mundo, inauguradas em 1878, até porque estão bem ao lado do Duomo! As elegantes galerias Vitor Emanuel II certamente necessitariam de um dia "normal", entenda-se não-feriado, com comércio aberto e os próprios milaneses em passeio, não apenas as "hordas" de turistas a que me juntei! No entanto a ideia do espaço grandioso ficou bem explícita, para futuras visitas com compras em mente!

A monumental entrada das galerias, junto à Piazza del Duomo


Vista sobre a imensa cúpula de vidro das galerias, cuja
construção obrigou a inovações várias na utilização
de metal e vidro enquanto elementos estruturais
Outra vista com as lojas Prada e Louis Vuitton em
primeiro plano, pour la joie de Mesdames!

Junto à Piazza del Duomo, encontramos o pouco do que resta do núcleo medieval, com destaque para o edifício do Palazzo della Ragione, do século XIII, sede da administração pública da cidade até ao século XVIII, e da contígua Praça dos Mercadores, ou Loggia dei Mercanti, centro de comércio e negócios da época medieval.

A diminuta Loggia dei Mercanti, com
o Palazzo della Ragione em segundo plano


Estátua barroca de Santo Ambrogio, vista das arcadas
do piso térreo do Palazzo della Ragione

Uma passagem pelo edifício da celebríssima Ópera La Scala impunha-se, mas redundou numa certa desilusão, já que o exterior do edifício não saberia competir com outras óperas, como a de Paris ou Sydney, por exemplo. Fica a sensação de que o melhor está no interior, com o maior palco da Europa. Bem maior destaque merecem a estátua de Leonardo da Vinci, frente à Scala, e o elegante prédio contíguo da Banca Comercialle Italiana.





Após uma manhã bem passada (e bem andada...) não faltam museus por ver, ruelas por explorar e compras por fazer que me/nos tragam até Milão num futuro próximo! Arrivederci súbito!

A homenagem a Garibaldi, com a omnipresente
torre do Castello de Milão em pano de fundo

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