Há muito que queríamos ir à Provence, região mítica das cigarras, da lavanda e dos quadros do Van Gogh, já na fase "sem uma orelha". Tivemos a oportunidade numas "micro-férias". Sim, não são curtas nem mesmo mini, mas bem "micro" porque foram... uma noite e um dia! E não se tratou de uma "escapada" de fim de semana porque, ainda assim, foram 1200km de estrada e um cenário cultural e geográfico totalmente diferente. Poder-se-à chamar-lhes "escapadona", no limite!
O extraordinário anfiteatro de Nîmes, melhor
conservado do que o Coliseu de Roma!
Sábado à hora do almoço, um céu de chumbo prometia castigar-nos com um fim-de-semana de chuva abundante por Berna. Decidimos "dar a fuga" e, para jogar pelo seguro, descer bem a Sul e porque não, loucos que somos, até ao sul de França, em pleno mês de Julho, de confusão nas estradas e de hotéis abarrotados?
Nestas "micro-férias" visitámos alguns dos ex-libris desta belíssima região francesa, percorrendo em escassas horas dois milénios de História, entre o sublime Anfiteatro de Nîmes e o seu templo romano ("Maison Carrée") que são tão somente os dois monumentos romanos melhor preservados de França, e de destaque mundial, a esmagadora aldeia medieval de Les-Baux-de-Provence, alegadamente a mais bela de França ou o imponente castelo da vila medieval de Tarascon.
O possante castelo de Tarascon
Entendemos que precisaremos de muito mais do que várias "mini-férias" para conhecer em profundidade as inúmeras riquezas históricas e naturais de uma região que arrasta (com plena razão, verificámos) atrás de si uma fama de paz e repouso, de contacto puro com a natureza mas também de terra de lendas e estórias do princípio dos tempos. A menos de seis horas de Berna, o regresso não saberia demorar...
Numa região de "estórias mil", é normal encontrar-se, no meio do nada,
a quilómetros de tudo, pequenas capelas perdidas no espaço e no tempo
como esta da foto (Chapelle de Saint-Laurent) que data do século XII!
ORANGE
Chegámos à cidade de Orange no intuito de pernoitarmos e visitarmos no dia seguinte os seus dois famosos monumentos romanos: o
Arco de Triunfo celebrando as vitórias de César sobre as tribos gálias, que confere entrada na cidade (e por onde ainda passámos como comprova a foto abaixo), e o espectacular
Teatro, único no mundo pela conservação da sua fachada principal. Infelizmente não encontrámos dormida em Orange, e tivemos de rumar até Nîmes (onde outras preciosidades da Antiguidade nos esperavam...). Não tivemos tempo de voltar no dia seguinte (hoje) mas o passeio pelos séculos de Orange fica prometido para a próxima.
NÎMES
Cidade fundada no século VI antes de Cristo pela tribo celta dos volscos em volta de uma fonte considerada sagrada, Nemausus, Nîmes vive ainda hoje em torno de dois monumentos milenares que datam do apogeu da era romana, o anfiteatro de 133 metros de comprimento por 100 de largura (o mais bem conservado do mundo!) e o Templo dedicado aos netos de Augusto, primeiro imperador romano, Caio e Lúcio, edifício que ficaria para a história da cidade como "Maison Carrée", Casa Quadrada.
Uma fantástica obra de arquitectura do primeiro século DC, ainda hoje inteiramente
assente, na altura dos seus três andares, nas suas fundações iniciais!
Pedras "cansadas"...
Um lugar de espectáculo para 20.000 pessoas sentadas...
...com portas abertas a cidadãos de todas as classes sociais, desde
que pouco sensíveis à visão de sangue fresco.
"By night"
A famosa "Maison Carrée" (templo em extraordinário estado de conservação devido ao seu uso contínuo durante os séculos que nos separam dos romanos (fortaleza, mercado, igreja, etc). O arquitecto de´Luís XIV chegou a querer desmontá-lo e transferí-lo para Versalhes, imagine-se!
Maison Carrée by night
TARASCON
Pequena vila medieval perdida na "campagne" distante de Nîmes, só lá parámos porque era a caminho da famosa aldeia de Baux-de-Provence, porque entrevi a silhueta imponente do castelo, e porque me lembrei de um livro que li com tanto gosto na minha infância em Paris, e cujo principal herói se chamava Tartarin e vinha de... Tarascon, claro! Mal imaginava eu que algum dia passasse pela terra que inspirou Alphonse Daudet nessa magnífica comédia que é hoje um clássico da literatura francesa.
O castelo e a Igreja de Tarascon vistos da ponte sobre o Ródano
Numa terriola que não nos pareceu muito frequentada por turistas (pareceu-nos, em boa verdade, perfeitamente entregue à imigração de origem árabe...), estava à nossa espera um dos mais belos castelos de França, tão imponente quanto elegante no seu traço. Foi um precioso desvio de rota...
Porta de entrada da vila de Tarascon
Vistas sobre o castelo de Tarascon
O casario típico da vila
Erguida num promontório de rochas e vegetação rasa, a aldeia de Les-Baux-de-Provence é uma referência turística da Provence (como comprovámos pelo afluxo de visitantes), mas também, e sobretudo, um oásis de história e civilização a quilómetros de tudo o que é ou foi humano. Fez-nos lembrar bastante Monsaraz, para quem conheça. Ruas estreitas e irregulares, capelas e igrejas milenares e muitas lojas de artesanato e "souvenirs" tornam o lugar num antro de turismo! Mas a configuração da aldeia e o panorama sobre a região traduzem-se em visita obrigatória para quem visite a Provence. Voltaremos para visitar a área do castelo. Estava calor, e estávamos cansados!
Da antiga cidade romana de Glanum, destruída no terceiro século da nossa era, e hoje junto à actual aldeia de Saint-Remy localizada a poucos quilómetros de Les-Baux-de provence, pouco resta da época romana, mas o que resta é de deixar boquiaberto qualquer visitante. São duas construcções monumentais, quais delas mais bela, lado a lado naquilo que era a entrada do cemitério romano. Um Arco de Triunfo demarcando o limite entre espaço público e religioso e, sobretudo, um dos mais bem conservados momumentos funerários daquela era passada.
E adivinhem quem se portou muito bem, e para quem viajar é sempre sinónimo de alegria???
